terça-feira, 4 de março de 2008

TRIBO AVÁ GUARANI DO OCO'Y RELEGADAS

Por: Joana Jahara

A ocupação do território brasileiro pelo colonizador branco foi muito cruel para os verdadeiros donos da terra. Cinco séculos depois, várias tribos foram dizimadas e as que sobreviveram acabaram sendo espremidas em algum pedacinho de terra. É o caso dos índios da aldeia Avá-Guarani do Oco’y, de São Miguel do Iguaçu, no Paraná.

No último mês de novembro, uma operação liderada por cerca de 100 homens das polícias Federal e Militar comandou a retirada de 55 membros dessa aldeia do Parque Nacional do Iguaçu, onde permaneceram por 80 dias, em protesto contra a expulsão de sua tribo do local. O objetivo da manifestação: retomar as suas terras tradicionais. Fizeram isso porque estão confinados em estreitas faixas de terra, entre monoculturas de colonos e as margens do lago da Usina Hidrelétrica de Itaipu, área extremamente inadequada, tanto em extensão como em condições ambientais, para a sobrevivência física e cultural daquela comunidade indígena.

Sobrevivência comprometida

Integrantes da equipe do Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva (Nesc) e do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da UFRJ, foram contatados pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para averiguar uma possível contaminação por agrotóxicos e visitaram a região por três dias. “Estivemos lá e fi camos chocados com o risco de saúde que correm os índios, sem contar no inapropriado território que os impede, inclusive, de desenvolver o plantio para a sua subsistência. Numa região de 231 hectares de mata secundária ciliar, habitada por 600 índios, fi ca o lago de Itaipu e as plantações de soja, milho, cevada, entre outras. A inalação dos agrotóxicos é o tempo todo”, diz a professora e pesquisadora da área de Ciências Sociais em Saúde, Regina Simões.

A sobrevivência pela pesca também é impossível, como afi rma a epidemiologista e diretora do Nesc, Letícia Legay: “eles estão em contato com a água da usina hidrelétrica, composta de metais pesados que contaminaram uma outra cultura de subsistência, que é a pesca. Alguns sintomas puderam ser notados, ainda que de forma muito inicial, como ardência nos olhos, doenças de pele. Casos de aborto e depressão podem estar associados”.

Sem a possibilidade de sobreviver por meios próprios, os índios recebem cestas básicas fornecidas pelo governo, mesmo que a natureza indígena não seja a de esperar a comida chegar. “Para eles isso é uma humilhação. O cacique da aldeia nos contou sobre o desejo de voltar para as suas terras de origem, plantar o que come, sem depender de ninguém”, disse Regina Simões. A moradia perdeu todas as suas características culturais. A casa original era de madeira e palha, a fornecida, em 1994, pela hidrelétrica, de alvenaria. pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para averiguar uma possível contaminação por agrotóxicos e visitaram a região por três dias. “Estivemos lá e ficamos chocados com o risco de saúde que correm os índios, sem contar no inapropriado território que os impede, inclusive, de desenvolver o plantio para a sua subsistência. Numa região de 231 hectares de mata secundária ciliar, habitada por 600 índios, fi ca o lago de Itaipu e as plantações de soja, milho, cevada, entre outras. A inalação dos agrotóxicos é o tempo todo”, diz a professora e pesquisadora da área de Ciências Sociais em Saúde, A sobrevivência pela pesca também é

Terra para brincar versus sobrevivência

Segundo uma carta circular (instrumento judicial cuja finalidade é provar que a terra em disputa é área tradicional dos indígenas), contendo parecer da antropóloga Maria Lucia Brant de Carvalho, da Fundação Nacional do Índio (Funai), foram levantados, em pesquisa, 32 aldeamentos Guarani existentes até 1940, somente em território brasileiro, na região de Foz do Iguaçu e em seu entorno. Dessa data até 1980, todos desapareceram. Entre eles, os aldeamentos Guarani e São João Velho, que se localizavam nos limites do atual Parque Nacional do Iguaçu. A área, atualmente uma unidade de conservação administrada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), há muito é ocupada pelos Guarani, como atestam registros históricos e etnográficos. Porém, órgãos e autoridades governamentais brasileiros alegam que a região reivindicada pela invasão ameaça o título de Patrimônio Natural da Humanidade, concedido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura). “É chocante o modo como a sociedade trata essa questão. Como se os índios fossem os invasores, inclusive citando que os mesmos estão atrapalhando o turismo e impedindo que aquela região, tão bela, perca o título de Patrimônio Natural da Humanidade. Questionamos isso. Afi nal, os índios não fazem parte desse patrimônio natural”, indaga Regina Simões.

Os índios têm uma forte relação com a terra, da qual depende sua qualidade de vida. “O mais interessante é o quadro patológico montado: sem espaço para plantar os índios perdem as suas referências, o que corresponde a um passo para a ausência de saúde. Isso precisa ser estudado, mas provavelmente os índios, por perderem os hábitos alimentares, em decorrência das cestas básicas, desenvolverão doenças inerentes as da civilização branca”, afirma Letícia Legay.

A entrada dos Guarani no parque constitui a retomada de território do qual foram ilegalmente expulsos, como o único local que apresenta a diversidade biológica necessária para atender as necessidades específicas de sua sobrevivência física e cultural. Um dos idosos da aldeia revela a sua tristeza: “os brancos usam a terra para brincar, passear e ganhar dinheiro, enquanto que nós precisamos dela para sobreviver”.

Postado por Momaitei.

Fevereiro. 2006 UFRJ Jornal da 7.Disponivel em:

<http://www.jornal.ufrj.br/jornais/jornal13/jornalUFRJ1307.pdf>. Acesso em: 04.mar.2008. 12:37

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